O Brasil é um país de renda média alta com uma população total de aproximadamente 214 milhões de pessoas (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2022; Banco Mundial, 2020), dos quais 57% são mulheres e quase 16% têm 60 anos ou mais (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2019). O país está dividido em cinco regiões geográficas (Norte, Sul, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste) e é diversificado em termos de cultura e perfis socioeconômicos. O envelhecimento populacional no Brasil está ocorrendo em uma das taxas mais rápidas do mundo, resultando em um aumento do número de pessoas vivendo com condicoes crônicas, incluindo demência (Melo et al., 2020; Banco Mundial, 2011). Estimativas de 2019 revelam 1,8 milhão de pessoas vivendo com demência no país (GBD, 2022).
O estigma e a discriminação em relação às pessoas que vivem com demência e seus familiares cuidadores estão presentes no Brasil em vários níveis, inclusive entre os profissionais de saúde, além de membros do público e familiares de pessoas que vivem com demência (Oliveira et al., 2021).
Como resultado, as pessoas que vivem com demência são muitas vezes socialmente isoladas e os cuidadores são indiretamente também afetados. É necessário aumentar o conhecimento e a conscientização sobre demência entre as pessoas no Brasil. Esforços anti-estigma podem ajudar a reduzir visões negativas em relação à demência no país.
Objetivo
Melhorar o conhecimento e as atitudes e reduzir o estigma e a discriminação relacionados à demência entre os agentes comunitários de saúde.
Por que agentes comunitários de saúde?
Os serviços de atenção primária (UBS) são o primeiro ponto de acesso para pessoas que vivenciam problemas de saúde física ou mental no Brasil. Na maioria das regiões do país, as UBS fazem parte do programa Estratégia Saúde da Família do qual os agentes comunitários são parte fundamental. Esses profissionais são responsáveis pelas atividades de promoção a saúde e prevenção de doenças e, como tal, eles ajudam diretamente a ampliar o acesso à atenção à saúde nacionalmente.
A maior parte da formação oferecida aos agentes comunitários de saúde no Brasil, no entanto, é voltada para o controle de doenças transmissíveis e doenças físicas não transmissíveis, como diabetes e hipertensão, com menos foco nas necessidades de saúde mental.
Intervenção
A intervenção consiste em três sessões em grupo, realizadas em três dias consecutivos, com duração de três horas cada, envolvendo os agentes comunitários de saúde participantes de cada Unidade Básica de Saúde em cada sessão (total = 9 horas em três dias para os agentes comunitários de saúde).
A intervenção utiliza materiais audiovisuais e impressos contendo, por exemplo, vídeos de pessoas que vivem com demência e familiares cuidadores compartilhando suas experiências pessoais, atividades reflexivas, discussão em grupo e apresentações em Power Point®
Um dos focos da intervenção é sentir e entender como seria viver com demência.
DIA 1 Construindo conhecimento e mudando crenças: iniciando o processo de transformação. A primeira sessão começa com uma sessão de post-it. É solicitado aos agentes comunitários de saúde que reflitam sobre suas crenças e dúvidas, bem como as de seus colegas e respondam às seguintes questões:
A demência ocorre devido a...
As pessoas que vivem com demência são...
Como você acha que as pessoas que vivem com demência devem ser tratadas por outras pessoas?
Em seguida, analisamos as respostas em grupo, usamos outros exercícios para desenvolver as reflexões e, finalmente, pedimos aos participantes que considerem:
“Você já refletiu sobre como seria sua vida se recebesse um diagnóstico de demência?”
DIA 2 Quebrando estereótipos e construindo uma nova visão. Apresentamos conteúdo educacional/teórico sobre estigma, discriminação, estereótipo e linguagem para sensibilizar os agentes comunitários de saúde sobre como os pensamentos, sentimentos, atitudes e comportamentos de outras pessoas podem afetar as pessoas que vivem com demência. Em seguida, mostramos pequenos vídeos de depoimentos de pessoas que vivem com demência e, ao final, realizamos uma discussão dinâmica para ajudar os participantes a desenvolverem empatia sobre questões cotidianas vivenciadas por pessoas que vivem com demência.
DAY 3 Integrar o elemento de contato social e discutir formas de se relacionar, agir e sentir. Também partilhamos narrativas sobre o cotidiano de pessoas que vivem com demência e seus cuidadores, com base em situações da vida real.
Ensinamos aos agentes comunitários de saúde estratégias de comunicação verbal e não verbal positivas e estimulamos reflexões e debates sobre como aplicar essas estratégias de comunicação em seu ambiente profissional. Solicita-se aos agentes comunitários de saúde que tentem identificar falas e comportamentos inadequados e pensem nas possibilidades de como cada situação pode ser mudada positivamente, aplicando as estratégias de comunicação positiva aprendidas anteriormente.
Encerramento e reflexões sobre como as práticas anti-estigma podem ser integradas à sua prática clínica
Discussão/reflexão em grupo sobre como os agentes comunitários de saúde podem melhorar sua prática para prestar melhores cuidados às pessoas que vivem com demência e suas famílias.
Nota: Um link para o manual e protocolo de intervenção (em ingles) pode ser encontrado aqui. https://bmjopen.bmj.com/content/12/7/e060033 Estamos atualmente avaliando a intervenção e atualizaremos este recurso com os resultados assim que estiverem prontos.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2020). Nova proposta de classificação territorial mostra um Brasil menos urbano | Agência de Notícias. Agência de Notícias - IBGE. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/15007-nova-proposta-de-classificacao-territorial-mostra-um-brasil-menos-urbano
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2022). IBGE | Projeção da população. https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/box_popclock.php
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, B. (2019). Pesquisa Nacional de Saúde 2019: Ciclos de Vida. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101846.pdf
Ministério da Saúde do Brasil. (2013). Pesquisa Nacional de Saúde 2013: Acesso e Uitlização dos Serviços de Saúde, Acidentes e Violências. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf
Ministério da Saúde do Brasil. (2019). Sistema Único de Saúde (SUS): Estrutura, principios e como funciona.http://www.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude
GBD. (2022). Estimativa da prevalência global de demência em 2019 e prevalência prevista em 2050: Uma análise para o Estudo de Carga Global de Doenças 2019. The Lancet Public Health, 0(0). https://doi.org/10.1016/S2468-2667(21)00249-8
Melo, SC de, Champs, APS, Goulart, RF, Malta, DC, & Passos, VM de A. (2020). Demências no Brasil: Carga crescente no período 2000-2016. Estimativas do Global Burden of Disease Study 2016. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 78, 762–771. https://doi.org/10.1590/0004-282X20200059
Oliveira, D., Mata, FAFD, Mateus, E., Musyimi, CW, Farina, N., Ferri, CP, & Evans-Lacko, S. (2021). Vivências de estigma e discriminação entre pessoas que vivem com demência e cuidadores familiares no Brasil: estudo qualitativo. Envelhecimento e Sociedade, 1–22. https://doi.org/10.1017/S0144686X21000660
Banco Mundial. (2011). Envelhecer em um Brasil mais velho. http://documents1.worldbank.org/curated/ru/906761468226151861/pdf/644410PUB00Gro00ID0188020BOX361537B.pdf
Banco Mundial. (2020). Dados para o Brasil, país de renda média alta. https://data.worldbank.org/?locations=BR-XT